Inadimplência no agronegócio surpreende e pressiona resultados do BB, com foco em recuperações judiciais no Centro-Oeste
O Banco do Brasil já previa um aumento na inadimplência do agronegócio no primeiro trimestre de 2025, mas o resultado veio acima do esperado. “Sabíamos que a inadimplência seria maior e mais resistente, mas o número surpreendeu”, afirmou a presidente Tarciana Medeiros em coletiva com jornalistas nesta sexta-feira (16). Com volumes financeiros expressivos no setor agropecuário, qualquer desvio nas projeções tem impacto direto nos balanços. Segundo Tarciana, o índice atual representa a pior inadimplência da história do agronegócio e deve continuar elevado também no segundo trimestre.
O agronegócio é o principal segmento na carteira de crédito do BB. A inadimplência da área subiu para 3,04%, ante 2,45% no último trimestre de 2024 e 1,19% no mesmo período do ano anterior. Esse avanço foi um dos principais responsáveis pelo lucro líquido ajustado do banco cair para R$ 7,37 bilhões, uma redução de 20,7% frente ao mesmo trimestre de 2024 — bem abaixo da projeção de R$ 9,05 bilhões estimada por analistas consultados pela Bloomberg.
A repercussão negativa levou as ações do BB a uma queda acentuada de 12,21% no pregão da B3, cotadas a R$ 25,81 por volta das 13h, pressionando também o Ibovespa.
Em teleconferência com analistas, o vice-presidente de gestão financeira, Geovanne Tobias, destacou que medidas como protestos, cobrança e judicialização, aliadas a uma safra recorde, podem ajudar a conter a inadimplência no segundo semestre.
Boa parte das recuperações judiciais no setor está concentrada em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, segundo o executivo.
Tarciana acrescentou que 80% dos produtores inadimplentes nunca haviam atrasado pagamentos com o banco, mesmo sendo clientes antigos. “Esperamos que esses compromissos comecem a ser regularizados ainda no segundo trimestre, mas o ciclo de recuperação de crédito no agro é mais longo que o de pessoas físicas ou jurídicas. Por isso, ainda devemos ver resistência no curto prazo, com melhora mais clara a partir da nova safra, no segundo semestre.”
Ela também frisou que não há sinais de descontrole na inadimplência fora do setor agropecuário. “Seguimos firmes na oferta de crédito para quem tem perfil adequado, evitando superendividamento — especialmente entre micro e pequenas empresas, que são mais sensíveis à Selic alta.”
O BB também iniciou conversas com o Banco Central para discutir um possível tratamento diferenciado para a carteira agro dentro das regras da Resolução 4.966, que define o modelo de perdas esperadas e impõe pisos mínimos de provisão.
“O diálogo ainda está no início, já que só agora tivemos um retrato completo do trimestre. Mas, pelo histórico do setor e pela forma como o banco atua, acreditamos que é possível chegar a um entendimento”, disse Tarciana.
Já o vice-presidente de riscos, Felipe Prince, criticou os efeitos da nova resolução, dizendo que ela gerou “jabuticabas” — situações únicas do Brasil — por exigir provisões mínimas mais rígidas. “Nossos modelos são robustos, mas esse piso engessa os ajustes. As provisões agora precisam cair em etapas, o que dificulta o ajuste conforme o comportamento real das operações. A regulação deveria seguir uma linha mais próxima do padrão internacional.”
FONTE: Agro Olhar - www.agroolhar.com.br
Data: 20/05/2025
Autor: Joubert Jader da Costa


